
E hoje, numa sessão de tortura - tudo pra ela era tortura, até limpeza de pele - ela refletiu sobre tudo o que anda acontecendo em sua vida. Até porque foram duas horas deitadas olhando para o teto branco - numa situação dessas refletir era quase impossível, mesmo com uma esteticista lhe furando a cara.
Ela não queria ser a iludida - mais uma vez -, ela não queria ser a fraca - mais uma vez-, ela não queria ser a boba - de novo. Ela só não sabia como evitar a sua própria essência. Não que ela tivesse nascido pra perder, mas ela ama, ela confia em todo mundo - o que a faz perder.
Pensou na escola, na dificuldade que ela vai ter que superar durante esses meses. Pensou nos amigos, os de perto e os de longe, os novos e os já existentes. Pensou na distância que a separava de várias coisas - e pessoas. Pensou nas dimensões do Oceano Atlântico e Mediterrâneo - juntas. Pensou na dor que estava sentindo.
E ela chorou.
Chorou pela distância, pela saudade, pelo passado, pela incerteza do futuro, pelos sonhos que ela sabe que não irão se realizar. Chorou por tudo e por todos. As lágrimas saíam automaticamente, sem comando ciente disso.
Derramou as lágrimas necessárias por cada pensamento - alguns exigiram muitas, se querem saber -, e parou.
Ela chorou como sempre chorava: para nunca mais chorar pelos mesmos motivos.