
Espaço. Escuro. Vazio. Frio.
Medo. Ansiedade. Angústia. Loucura. Procura.
Desespero. Claridade. Calor. Braços. Desmaio.
Quem...?
Céu. Sol. Calor. Vento.
Sorrisos.
Ruínas
Era difícil imaginar que depois de tudo, eu havia perdido. Ela já tinha estado ali, nos meus braços, nas minhas mãos. Mas perdi. Perdi com a - quase - certeza de que jamais encontraria. Foi quando senti uma dor intensa no meu peito, que me fez correr. Correr muito, não sei para onde. Corria sem rumo, sem direção, mas sabendo que onde eu parasse, encontraria algo. E eu pedia, no fundo dos meus pensamentos, que fosse ela, a minha garota.
Meu coração disparava a cada passo que dava. A luz do amanhecer cobrindo as árvores do bosque, o vento gélido batendo no meu rosto cansado. A casa da arvore não era mesmo um lugar muito bom para passar a noite, mas sentia que devia estar lá, e agora eu entendia o porquê.
Seguir meus sentidos estava me levando à uma antiga gruta, já em ruínas. Cheguei mais perto e ouvi uma voz. Uma voz desesperada e baixa, intercalando com soluços, como se tivesse cansado de gritar e chorar. Minha respiração acelerou. Meu coração rompia minha pele enquanto meus braços tiravam as pedras da passagem. Elas pareciam ter caído há pouco tempo, trancando minha garota lá.
Minhas mãos não sentiam o peso das grandes peças de concreto, eu só pensava na vida dela, no desespero dela. Abri uma passagem. O sol já iluminava bastante o bosque, inclusive a ruína. Pude vê-la deitada no chão, sem esperanças.
Peguei-a no braço. O frio de sua pele provocou pequenas correntes elétricas em contato com meus braços quentes e firmes em sua volta. Senti ela desmaiar, o que, na hora, me provocou um desespero. Pensei que ela tivesse morrido, numa hipótese mais improvável. Tratei de colocá-la logo na grama ainda úmida do orvalho, e esperar que ela acordasse.
Estava a encarar seus olhos quando esses se abriram, perdidos. O alívio percorreu todo meu corpo. Senti meus braços afrouxarem em sua volta, enquanto o sorriso - mesmo que fraco - apareceu em seu rosto de cera.
Ela estava a salvo. E nós estavamos juntos, como nunca deveríamos ter deixado de estar.